Câncer da Próstata

Prof. Dr. Enrico Andrade – Prof. Dr. Gustavo Alarcon


Introdução

Parte integrante do aparelho uro-genitário masculino, a próstata, habitualmente é do tamanho de um pêssego, situa-se por baixo da bexiga. Este órgão é responsável pela secreção de substâncias nutrientes e fluidificadoras do sémen, assim como pela sua emissão através da ejaculação. Situa-se na confluência das vias genitais e urinária, atravessada pela uretra.

Este órgão é a sede de 3 patologias principais: o câncer da próstata, o adenoma da próstata (hiperplasia benigna da próstata) e a infecção da mesma (prostatite). O câncer  da próstata é na esmagadora maioria dos casos um adenocarcinoma, ou seja, um câncer de origem glandular.
 

Epidemiologia

O câncer da próstata representa a 2ª causa de morte por câncer no homem, atrás do câncer do pulmão, sendo porem o câncer mais frequente no homem de mais de 50 anos. No Brasil estima-se que tenha uma incidência de 82 casos por 100 000 habitantes e uma mortalidade de 33 por 100.000 habitantes. Representa cerca de 3,5% de todas as mortes e mais de 10% das mortes por câncer.
 

Factores de risco:

– Idade.

– Fatores familiares: risco 2 a 5 vezes superior nos homens com um familiar em 1º grau atingido pela doença.

– Raça negra.

– Alimentação: alguns estudos apontaram:  ingestão excessiva de gorduras animais.

– Outros fatores tais como a obesidade, o sedentarismo e o tabagismo.
 

Diagnóstico

Toque retal: a palpação da próstata através do reto permite verificar o tamanho a consistência do órgão.

PSA (Antigénio Específico da Próstata) : Esta proteína mensurável numa análise sanguínea é produzida pela próstata e encontra-se elevada em caso de doença prostática. Podem verificar-se aumentos significativos e repentinos nos valores de referência na presença de câncer da próstata, mas também em situações de inflamação ou infecção. A hiperplasia benigna da próstata também pode estar associada a um aumento sérico do PSA. Está determinado um valor de 4ng/mL como valor de referência, porém, este valor será apenas indicativo do grau de suspeita de câncer: nem sempre uma elevação do PSA significa a presença de câncer da próstata e, em revés, um PSA inferior a 4ng/mL nem sempre poderá excluir um tumor clinicamente significativo. A dosagem do PSA é da mesma forma utilizada para monitorar a evolução de um câncer prostático.

Ultra-som transretal: é possível obter uma imagem da próstata assim como detectar alguns tumores. No entanto, devido à sua baixa especificidade e sensibilidade, esta técnica deverá sempre ser entendida apenas como um complemento diagnóstico da doença.

Biópsia prostática: única técnica diagnóstica capaz de confirmar o câncer.  Quase exclusivamente guiadas por ultra-som, são efectuadas várias punções representativas do órgão, ou dirigidas a um nódulo visível ao ultra-som. Este exame só deve ser reservado aos homens apresentando alterações do PSA associado a um toque ou um ultra-som sugestivos de doença, já que não é desprovido de efeitos secundários não negligenciáveis como hematúria, hematospermia.

PCA3 : gene detectado a partir de uma amostra de urina, no entanto de uso limitado devido ao seu preço elevado face à sensibilidade diagnóstica demonstrada.
 

Sintomas do câncer da próstata

Na maioria dos casos, numa fase precoce o câncer da próstata não apresenta qualquer sintoma. O diagnóstico sintomático é também só por si impossível dado o câncer da próstata apresentar sintomas do trato genito-urinário inferior comuns a outras patologias mais frequentes tais como a hiperplasia benigna da próstata. Os sintomas podem ser: dificuldade em urinar (disúria), a necessidade de urinar frequentemente durante a noite (noctúria), micções dolorosas, a urgência miccional, desconforto ou dor pélvicas, mas também disfunção eréctil ou ejaculação dolorosa.
 

Prevenção do câncer da próstata

Permanecem muitas dúvidas em relação ao aspecto preventivo. A combinação do PSA e do toque retal em homens assintomáticos permite o diagnóstico e o tratamento precoces, recomendando-se esta análise a partir dos 40 anos nos homens sem fatores de risco estabelecidos.

Alimentação: diminuição de gordura de origem animal e permanecem muitas incertezas após vários estudos realizados para avaliar o impacto do consumo de licopenos (tomate), isoflavonas (soja), aliáceas (alho, cebola,…), peixes gordos, Selénio, antioxidantes (vitamina E).
 

Tratamento do câncer da próstata

Algumas particularidades do câncer da próstata, tais como a hormono-dependência ou o carácter lento em termos de evolução, podem condicionar a melhor abordagem terapêutica, sendo por vezes várias as opções válidas para um mesmo caso.

Vigilância clínica: alguns casos em que o tumor se encontra confinado ao órgão, assintomático, pode representar uma opção válida, dado que em muitos doentes idosos o tumor nunca atingirá alguma relevância clínica. Poupa-se assim o doente à administração de tratamentos com efeitos secundários importantes (disfunção erétil, incontinência urinária…)

Cirurgia: a prostatectomia radical permanece o “"gold standard”" do tratamento do câncer da próstata localizado, podendo ser realizada por cirurgia aberta ou por via laparoscópica-robótica. Está porem associada a uma disfunção erétil temporária ou permanente, anejaculação e, mais raramente, a incontinência urinária. Nos casos de doença avançada pode recorrer-se à orquidectomia, associada ou não a uma ressecção trans-uretral da próstata.

Radioterapia externa: radiação externa da próstata com raios Gama. Apresenta efeitos secundários sobreponíveis aos da prostatectomia radical mas de aparecimento gradual. Pode ainda estar associada a intolerância intestinal. Representa também uma opção válida para os doentes com poucas condições operatórias.

Braquiterapia: técnica mais recente de radioterapia, consiste em implantar “sementes” radioativas diretamente no órgão sob o controle de ultra-som.

Outras técnicas de tratamento localizado tais como a criocirurgia ou o HIFU são apenas reservadas a casos selecionados.

Terapêutica hormonal: o bloqueio androgénico, baseada na dependência do tumor na testosterona endógena, diminui o seu crescimento.

Quimioterapia: reservada aos estágios avançados. 
 

Prognóstico

Responsável por 9% das mortes por câncer no homem, com o envelhecimento da população, o câncer da próstata irá representar a realidade de quase 10% da população masculina. Se o diagnóstico precoce da doença ainda apresenta algumas dificuldades, a confirmação do mesmo por biópsia representa um novo desafio. A melhor opção terapêutica deverá sempre adequar ao controle da doença e às expectativas do doente.

A sobrevivência só poderá ser determinada com um correto estadiamento. Comparativamente a outras neoplasias, o prognóstico é relativamente favorável, sendo que será a causa de morte de 1/3 dos homens com o diagnóstico estabelecido e com uma evolução de cerca de 10 anos.

 

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