Todos os cálculos do aparelho urinário diagnosticados devem
ser tratados, uma vez que as consequências clínicas associado são graves e
pouco previsíveis. Podendo provocar cólica, perda da função renal e infecção.
A infeção urinária pode ser generalizada, com quadro sistémico mais grave e de
elevada mortalidade. Também há o risco de desenvolvimento de tumores
consequente à presença de cálculos em contacto com o tecido de revestimento
do aparelho urinário.

Os cálculos com dimensões iguais ou inferiores a
3 mm têm uma taxa de expulsão espontânea superior a 80%, fato que justifica
uma opção de tratamento clínico, embora alguns estudos demonstrem que mesmo
estas pequenas concreções podem ser causa de dor ou desconforto significativo.
Os cálculos, com dimensões superiores a 5-7 mm, tem menor probabilidade de eliminação
espontânea (50%), o qual se justifica o tratamento invasivo para eliminação
do cálculo. Também é indicado o tratamento cirúrgico para os cálculos com dimensões
maiores de 7mm ou se tiverem associados a infecção ou quando bilaterais ou em
rim único e principalmente houver obstrução urinária e a sintomatologia
dolorosa intensa.
Há três décadas, a remoção de cálculos
urinários passava quase sempre pelo recurso a cirurgia aberta convencional.
Contudo, a evolução tecnológica e técnica permitiu inverter este panorama em
favor das opções não invasivas ou minimamente invasivas, restando atualmente
à cirurgia aberta menos de 5% dos casos de litíase urinária, e nos centros
mais experientes menos de 1%.
A introdução da litotripsia extracorpórea por
ondas de choque (LECO) na década de 1980 permitiu alterar o paradigma de
tratamento da litíase urinária, por configurar uma opção não cirúrgica
eficaz. Concomitantemente, o desenvolvimento tecnológico na área dos
componentes óticos e de captação de imagem, associados à capacidade de
miniaturização dos instrumentos, permitiu a evolução de técnicas cirúrgicas
minimamente invasivas video-assistidas, por endoscopia do sistema urinário.

Equipamento de LECO
Devido à necessidade de resolução dos cálculos
urinários, a estratégia terapêutica é desenhada no princípio ser eficiente e
ser minimamente invasiva, deixando a cirurgia aberta convencional para os
casos em que não restam outras alternativas. Contudo, a escolha do tratamento
está subordinado à avaliação de um conjunto de fatores, como: o número de
cálculos, a sua dimensão, a sua localização, a estrutura química e física,
fatores associados à anatomia do aparelho urinário, fatores associados ao
próprio doente, como a obesidade mórbida, gravidez, infecção urinária ou
sistêmica, deficiências de coagulação (por doença ou consequentes a
medicação), deficiências físicas, próteses ou aneurismas aorto-abdominais.
A Litotripsia Extracorpórea (LECO) constitui
atualmente a primeira opção e a opção mais frequente para terapêutica da
litíase urinária, permitindo uma taxa de fragmentação superior a 90%, com uma
eficácia de eliminação completa de cálculos superior a 70%. O princípio desta
técnica baseia-se na existência de um fonte de ondas de som, atuando a partir
do exterior do corpo humano, propagando-se e concentrando sobre o cálculo. A
focalização do cálculo é orientada por Rx ou ultra-som. O doente é
posicionado sobre o sistema, recebe antibióticos, analgésicos e/ou sedativos,
e a sessão progride com a administração progressiva de ondas de som, até que
o cálculo se fragmente. Esta técnica pode ser executada repetida vezes para o
mesmo cálculo, se a fragmentação foi insuficiente, ou para outro cálculo
diferente.
A LECO está indicada para cálculos com dimensões
inferiores a 20 mm, de localização renal ou ureteral. A eficácia desta
técnica diminui significativamente nos cálculos de maiores dimensões e de elevada
dureza. Por outro lado, a localização dos cálculos no segmento inferior do
rim, ou em zonas de menor drenagem, embora não impeçam a fragmentação,
limitam a eliminação subsequente dos fragmentos, podendo necessitar de outra
opção terapêutica.
Nos casos em que os cálculos têm dimensões
próximas dos 20 mm, quando há apenas um rim, quando há risco de infecção ou
obstrução urinária com cólica, aconselha-se a colocação prévia de um cateter
duplo J ureteral (tubo com cerca de 1.4 mm de diâmetro colocado
endoscopicamente entre o rim e a bexiga), que minimiza a probabilidade de
ocorrência destas complicações.
A LECO está contra-indicada nas grávidas,
nos doentes com deficiências de coagulação, na presença de infecção ativa, nos
doentes com aneurismas da aorta ou da artéria renal. A obesidade mórbida,
embora não impossibilite a LECO, limita a sua eficácia.

Ilustração demonstra os 3 tipos de tratamentos
minimamente invasivos: Cirurgia Percutânea, LECO e Ureteroscopia.
A cirurgia percutânea do rim consiste numa forma
minimamente invasiva com capacidade de resolução de praticamente todos os
cálculos renais, embora se reserve primariamente para casos em que a massa do
cálculo é elevada (dimensões superiores a 20 mm, cálculos renais múltiplos),
para casos em que a eficácia por outras técnicas menos invasivas foi
insuficiente, cálculos de elevada dureza (mesmo que menores que 20 mm).
Nesta técnica, o doente é operado sob anestesia
geral, com a punção do rim a partir da região lombar até o interior do rim,
este processo requer apoio de imagem radiológica. Através destes acessos
progride um aparelho (nefroscópio) com uma fonte de luz e um sistema de
captação de imagem (videoendoscopia), possuindo no seu interior um canal de
trabalho milimétrico por onde se manipulam instrumentos de fragmentação do
cálculo (ultrassônicos ou laser), bem como pinças para remoção de fragmentos.
A cirurgia percutânea do rim está contra-indicada quando existe infecção
urinária ativa ou deficiência de coagulação, pelo risco de hemorragia ou
infecção sistémica associado à técnica.
A Ureterolitotripsia Endoscópica surgiu com o
desenvolvimento tecnológico e a miniaturização dos componentes permitiu o
avanço significativo das técnicas endoscópicas assistidas por vídeo, sendo
possível, atualmente, a progressão retrógrada sob visão ao longo de todo o
aparelho urinário, desde o orifício terminal da uretra até às cavidades
intra-renais.
 
Ureteroscopia com fragmentação
de cálculo por laser
Estes aparelhos de calibre milimétrico
(ureterorrenoscópios), progridem por dentro do trato urinário até a localização
dos cálculos urinários. Sendo fragmentados por laser e seus fragmentos são
retirados por aspiração ou por laser.
A eficácia desta técnica vem aumentando,
atualmente, as taxas de resolução de cálculos do ureter são superiores a 90%
e taxas de resolução de cálculos dentro do rim equivalem à cirurgia
percutânea. Contudo, em muitos casos é necessária a colocação temporária de
um catéter duplo J ureteral, com objetivos de: evitar a infecção e/ou cólica,
ou para aumentar o calibre do ureter e faciliatar a drenagem da urina e de
fragmentos de cálculos.
O papel da cirurgia aberta convencional está
reservado para os casos em que não é possível resolver por técnicas
minimamente invasivas, particularmente cálculos renais volumosos e/ou complexos.
Por outro lado, a cirurgia aberta também está indicada quando os cálculos se
associam a perda irreversível de função renal, sendo necessário remover parte
ou a totalidade do rim.
O tratamento dos cálculos urinários pode ser um
processo complexo. Atualmente, existe um conjunto de opções terapêuticas não
invasivas ou minimamente invasivas de elevada eficácia, muitas vezes com
sobreposição de indicações e com igual poder de resolução para a mesma
situação. Em muitos casos é necessário associar mais do que uma opção
terapêutica para eliminação completa dos cálculos. Apesar de cada vez menos
invasivas, mais eficazes e mais seguras, nenhuma das opções terapêuticas é
completamente isenta de riscos, podendo ocorrer como complicação hemorragia,
infecção e dor.
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